M&As de tecnologia movimentam R$ 16,7 bi até julho
- Seneca Evercore | Notícias

- 30 de set.
- 4 min de leitura
(Valor Econômico) Grandes operações, especialmente na área de software, voltaram a aquecer o setor, após um longo período de entressafra e ativos descontados
Grandes transações do setor de tecnologia voltaram a ganhar espaço no Brasil, depois de um “inverno” que obrigou startups a ajustarem o negócio e a buscarem rentabilidade. Depois de alguns anos em compasso de espera, as operações no setor deram sinal de retomada nos últimos meses - no acumulado do ano até julho, somam R$ 16,7 bilhões. No mesmo período em 2024, conforme dados de mercado, o valor foi de R$ 13 bilhões - e de R$ 12 bilhões em todo o ano de 2023.
A tendência é de crescimento. Se considerados os dados globais de M&A (fusões e aquisições, na sigla em inglês) no setor neste ano, o volume chega a US$ 2,3 trilhões, conforme a consultoria Dealogic, aumento de 50% em relação a todo o ano de 2024.
Foram 34 operações considerando-se os sete primeiros meses deste ano envolvendo apenas empresas de software, de acordo com a RGS, butique de M&As. Em 2024, foram 37 ao todo. Os números ainda estão longe dos vistos em 2021, durante a pandemia, período em que a ampla liquidez global e busca por digitalização levou a uma corrida por ativos do setor. Naquele ano, o mais aquecido na história, foram registradas 114 transações.
Dentre as grandes operações anunciadas no período está a venda da Linx, pela Stone, para a Totvs. Outra operação considerada um marco foi a venda da Conta Azul para a Visma, uma gigante norueguesa de software de gestão para pequenas e médias empresas. O investimento minoritário do fundo General Atlantic na Starian, da Softplan, também foi uma das principais do ano até o momento. Outro negócio de peso foi o investimento da Partners Group na Omie, de gestão empresarial. A gigante iFood adquiriu 20% da CRMBonus, de “giftback” e cupons do varejo.
Outras operações estão na rua e devem dar mais musculatura ao volume negociado este ano. A Superlógica, de software de gestão de condomínios e controlada pelo fundo de private equity (que compra participação em empresas) Warburg Pincus, está à venda, apurou o Valor. Segundo fontes, há outras empresas de grande porte do setor que devem lançar em breve operações. Procurada, a Superlógica não respondeu ao pedido de comentário.
Depois de uma entressafra para o setor, o valor das empresas nessas operações também voltou a subir. Os dados da RGS mostram que os múltiplos pagos foram a 6 vezes, considerando o valor da empresa pela receita, ante 4 vezes em 2024 e 4,5 vezes em 2023. Para se ter uma ideia, em 2021, o múltiplo pago foi, na média, de 11,3 vezes. Prova dessa discrepância foi a venda da Linx: quando a Stone comprou a empresa em 2020, pagou R$ 6,7 bilhões, e a revendeu neste ano por cerca de R$ 3 bilhões.
Estudo da butique de M&A Fortezza mostra que, em software, as métricas estão bastante positivas, algo que pode ajudar a explicar a demanda em grandes transações no segmento. Neste nicho, a receita cresceu, na média, 15,6%, ante 13,1% de serviços de TI e 5,6% em telecom, por exemplo.
Segundo fontes consultadas pelo Valor, algumas transações do setor estão sendo lançadas porque parte dos empreendedores não quer passar por uma nova rodada de captação, ainda mais diante da leitura de que será mais difícil entregar crescimento relevante em um ambiente macroeconômico mais hostil. Além disso, outra pressão que tem surgido está vindo dos próprios fundos querendo retornar capital aos seus cotistas.
“Estamos vendo o mercado voltar a se aquecer neste ano. Ele estava muito quente entre 2020 e 2021. Depois, observamos uma grande ressaca em 2023 e 2024. Agora, temos uma boa recuperação”, diz Fábio Jamra, sócio da butique RGS. Segundo o executivo, as captações dos fundos voltaram a acontecer, mas os investidores seguem seletivos.
A transação do ano apontada como emblemática foi o investimento da Visma no Brasil, por quase R$ 2 bilhões. No mercado, a leitura foi que outros players passaram a olhar oportunidades no país após esse movimento da empresa norueguesa.
“Estamos bastante otimistas com o momento do setor de tecnologia no Brasil. No mercado privado, temos visto tanto a demanda de ‘high profile growth equity funds’ como a de estratégicos dedicados globais aos melhores ativos no Brasil. Isso ficou evidente pelos diversos ‘deals’ que conduzimos recentemente, dentre eles a venda da Conta Azul para a Visma, ou o aporte privado da General Atlantic na Starian”, afirma Pedro Pereira, responsável pela área de tecnologia para América Latina do Bank of America no Brasil.
Segundo o executivo do BofA, o interesse nos ativos vem ocorrendo não só de investidores financeiros - algo também provado no desempenho das empresas no setor na bolsa, acima do próprio Ibovespa, que já apresenta performance positiva -, mas também dos estratégicos.
O executivo aponta que a alternativa do M&A para essas empresas voltou a se abrir e muitas conseguiram atravessar o “inverno” do setor ajustando a rota, cortando custos e se mostrando resilientes. Pereira afirma também que o mercado de ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) nos Estados Unidos está aberto, mas ainda há uma exigência em relação ao tamanho das operações. Isso significa que muitas empresas de tecnologia precisarão crescer para buscar uma abertura de capital.
Isaias Sznifer, sócio da Seneca Evercore, aponta que o setor de tecnologia sempre teve participação relevante na indústria em números de operações, mas que, recentemente, tem se observado operações maiores.
Daniel Gildin, sócio-fundador da Fortezza Partners, pondera que, no setor, as grandes transações têm chamado a atenção, mas o mesmo não tem sido visto nos números de operações, que têm registrado queda. “As empresas muito pequenas estão com dificuldade de fazer transações”, diz. O executivo afirma que parte de operações deve ser acelerada, para ser assinada antes da virada do ano, dado que existe a leitura de que pode ser melhor evitar anos eleitorais.
Publicado em 30/09/2025 e disponível em: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2025/09/30/m-as-de-tecnologia-movimentam-r-167-bi-ate-julho.ghtml.




Comentários