Cenário do delivery mais disputado leva iFood a aumentar para R$ 17 bi o investimento no Brasil
- Seneca Evercore | Notícias
- 5 de ago.
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(ESTADÃO) O capital será utilizado em promoções, tecnologia e crédito para restaurantes; mesmo com aumento da competição, empresa diz que não vai queimar dinheiro para barrar rivais
Diante da volta da 99 ao segmento de delivery de comida e do anúncio da chegada da plataforma chinesa Keeta, o iFood aumentou em 25% o seu investimento no País, de R$ 13,6 bilhões no ano passado, para R$ 17 bilhões neste ano fiscal (até março de 2026). Líder desse mercado, a empresa vai dedicar o montante a promoções, tecnologia (especialmente em inteligência artificial), marketing e crédito para restaurantes.
O capital que será investido é uma combinação de ganhos obtidos pela empresa no País com um porcentual, não revelado, de investimento vindo do grupo de investimentos Prosus, dono do negócio. O valor é 17 vezes maior do que o anunciado pela 99, que está voltando a operar o serviço de delivery no País após ter abandonado o setor em 2023.
O motivo apontado pela rival para o retorno é a proibição de contratos de exclusividade com redes de restaurantes com mais de 30 unidades, o que abriu espaço para maior concorrência no delivery.
O vice-presidente de políticas públicas, assuntos legais e M&A do iFood, Lucas Pittioni, diz que o novo investimento no País considera um crescimento do mercado de delivery e que a empresa não está rasgando dinheiro com promoções para barrar o avanço da concorrência.
“O investimento em promoções segue a proporção de crescimento do volume total investido, 25%. Pode surgir a pergunta se estamos abrindo a carteira para reagir à competição de forma mais irracional, e a resposta é não. Esse era um investimento previsto desde abril”, afirma Pittioni.
O iFood tem atualmente 120 milhões de pedidos por mês e 55 milhões de clientes. Em três anos, em 2028, a meta é alcançar 200 milhões de pedidos mensais e 80 milhões de clientes. Ou seja, o volume de pedidos deve crescer mais do que o número de clientes, o que implica o aumento de pedidos por pessoa, e o foco da empresa será no consumidor da classe C.
O iFood prevê que os ganhos dos entregadores totalizem R$ 5,2 bilhões em 2025, 27% a mais do que no ano anterior. Atualmente, em todo o País, são mais de 400 mil, entre os quais cerca de 30% trabalham mais de 90 horas por mês e 70%, considerados trabalhadores ocasionais, menos do que isso.
Pittioni diz que tanto o número de pedidos quanto o valor pago por entrega subiram no último ano. Os ganhos dos entregadores ficam entre 1,8 e 4,1 vezes a mais do que um salário mínimo, a depender do número de horas trabalhadas.
Em contratações formais, a empresa estima que fechará o ano com 1,1 mil novos postos de trabalho. Desse valor, 500 trabalhadores ainda serão contratados, sendo a maior parte para o setor de tecnologia.
Crédito em apoio aos negócios
Dos R$ 17 bilhões anunciados, a frente de crédito da empresa vai absorver R$ 1,8 bilhão. Pittioni conta que os recursos são importantes para que os restaurantes cresçam ao investir em profissionalização, modernização ou eficiência das suas operações. “São empresas que têm dificuldade de acessar crédito. Via de regra, são restaurantes familiares que não encontram essa oferta nos bancos tradicionais”, diz.
Para o sócio-fundador na assessoria financeira Seneca Evercore, Daniel Wainstein, mesmo que uma parte do capital anunciado seja investida em empréstimos para lojistas, e não em desenvolvimento de tecnologia ou marketing, o valor pode ser considerado como um investimento.
“Eles estão colocando mais dinheiro no País para financiar seus clientes. É um investimento que vem para o Brasil. Ela vai investir para as empresas terem mais caixa para financiar seus clientes”, afirma.
Wainstein diz ainda que a chegada de novos competidores ao mercado de delivery traz um efeito positivo para toda a cadeia. “O cliente sai ganhando. Em qualquer caso de aumento de competição, a tendência é de que as empresas tenham de se diferenciar da concorrência por serviço melhor ou por preço mais baixo. Os beneficiados serão os restaurantes e os clientes que utilizam esses serviços”, diz.
Para o professor da FGV, Maurício Morgado, a chegada de mais empresas também é importante para os entregadores. “Os restaurantes estão reclamando muito da força que os atuais players têm conseguido cobrar tarifas muito altas. Ter mais competição vai ser bom, principalmente nesse cenário de empregos alternativos em que vivemos hoje”, diz.
A concorrente 99 zerou a taxa cobrada por plataformas de delivery — algo previsto para durar 24 meses. Na prática, a medida reduz o preço dos pratos para o consumidor e aumenta a lucratividade para os restaurantes. Com isso, uma pizza de R$ 130 pedida pelo aplicativo hoje pode sair por R$ 100.
Impacto econômico
De acordo com estudo anual em parceria com a Fipe, as atividades do iFood serão responsáveis por 0,64% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2025, ante 0,55% em 2024, movimentando R$ 140 bilhões em atividade econômica no País. O estudo mostra ainda que o iFood gera mais de 1 milhão de postos de trabalho diretos e indiretos.
Publicado em 05/08/2025 e disponível em: https://www.estadao.com.br/economia/negocios/cenario-delivery-disputado-ifood-aumentar-17-bi-investimento-brasil/.